sexta-feira, 4 de março de 2011

TEXTOS E ARTIGOS DO MOVAI- BOA LEITURA!


Interioranos, catingueiros, sertanejos ou soterapolitanos

Coloquei aqui alguns dos textos do MOVAI mas falta mais!
Vou ver se consigo anexar os artigos publicados e  algumas fotos.
Por hoje é só, pessoal!
Carnaval serve para alguma coisa também, descansar,pensar ou trabalhar!
Fiquem ligados!
Boa leitura!
Abraço sertanejo!
Marcelo Benigno

quinta-feira, 3 de março de 2011

ANO 2007



Bufões gregorianos e a velha história de sempre
Versão do artigo publicada pelo Jornal A TARDE em 25 /10/2007.

Tenho visto que o jornal A TARDE tem feito várias matérias sobre a movimentação cultural em torno das conferências que estão sendo realizadas em toda a Bahia.
Há, porém, muita propaganda política nisso tudo, sobretudo para prefeituras que antes eram do mesmo partido político hoje na situação.
É o caso de Vitória da Conquista, há quase 10 anos de administração petista e que não fez nada de relevante para a cultura neste período. E agora quer mostrar ao governo do Estado.
Aconteceu no dia 30 de setembro, a pseudo Conferência Municipal de Cultura de Vitória da Conquista, frente às outras, em toda a Bahia, promovidas pelo Governo do Estado.
Em dez anos de prefeitura em Conquista, os esforços e projetos para a Cultura foram inexistentes e, agora, frente ao término do mandato político, e por uma lógica pressão ou para mostrar serviço ao governo do Estado, a Secretaria de Cultura local tentou ludibriar o público presente numa mea-culpa disfarçada e ridículo.
O Grupo Caçuá de Teatro não podia se calar e nos manifestamos, pois estamos cansados de eventos meramente políticos, que usam os artistas locais para outros interesses. Vários Bufões (será que eles sabem o que é?) invadiram o Centro de Cultura e saudaram a Gregório de Matos, com epílogos que caíram como uma luva para a ocasião.
A mesa do evento até tentou disfarçar e aprovar a manifestação, mas ficaram claras, nos aplausos da platéia as verdades que falamos.
ESTAMOS AQUI, SENHORES, para exigir respeito e projetos reais para nós, artistas interioranos! Chega de joguetes políticos e inverdades às fuças de todos!
Venham aqui e se joguem na roda conosco, de verdade, sem tanta gente olhando e cercado de políticos! Cultura e arte não são para se fazer sentado numa salinha com computador e cafezinho a toda hora e falando para todo mundo a mesma frase de sempre: ‘Não tem verba para a cultura! Não tem verba para vocês’!
Caiam na real, pois além de artistas, somos guerreiros, respeitamos nossos colegas, desenvolvemos a nossa comunidade, e nem temos salário para isso! E quando não fazemos um projeto, por um motivo ou por outro, falamos verdadeiramente à nossa comunidade e lutamos para conseguir realizá-lo, de qualquer forma.
Isto está acontecendo em toda a Bahia! O artista está desacreditado de tanta promessa, política e corrupção. Em Salvador, explode uma bomba todo dia!
Esperamos, sinceramente, que as coisas e projetos aconteçam, e que chamem para roda quem tem se dedicado e trabalhado, verdadeiramente, para a comunidade, não elegendo gente da mesma panela política; afinal, com ou sem verba, temos sobrevivido e somos reconhecidos em todo Estado, e outras cidades do País, pelo nosso trabalho e competência.
Não vivemos à sombra de ninguém, temos luz própria, coragem, sangue no olho e determinação, além da força e proteção de todos nossos santos catingueiros, nossos mártires e orixás, e de Dionísio, que assim como nós, sempre lutou por esta arte transformadora!
Fiquem espertos! Pois não temos memória curta e muita coisa ainda virá por aí...

Marcelo Benigno é ator, arte educador, artista popular, catingueiro e sertanejo, professor de teatro pela Ufba, diretor do Grupo Caçuá de Teatro, em Vitória da Conquista, Membro do Conselho Fiscal do SATED-BA, e coordenador do Movai- Movimento de Valorização do Artista do interior.








CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE CULTURA EM CONQUISTA
Bufões Gregorianos, Políticos Mentirosos, e a velha história de sempre. Ai meu saco!

Aconteceu no dia 30 de setembro de 2007 a Pseudo Conferência Municipal de Cultura de Vitória da Conquista, frente às outras, em toda a Bahia, promovidas pelo Governo do Estado.
Em 10 anos de Governo, em Conquista, os esforços e Projetos para a Cultura foram inexistentes e agora, frente ao término do mandato político, e por uma lógica pressão ou para mostrar serviço ao Governo do Estado, a Secretaria de Cultura local tentou ludibriar o público presente numa “meaculpa” disfarçada e ridícula.
Dessa vez, ela não poupou recursos, encheu a cidade de cartazes, outdoor, material de primeira para os inscritos, discursos obsoletos e clichês, e até almoço para os participantes. Uau!
O Grupo Caçuá de Teatro não podia se calar e nos manifestamos, pois estamos cansados de eventos meramente políticos, que usam os artistas locais para outros interesses. Vários Bufões (será que eles sabem o que é?) invadiram o Centro de Cultura e saudaram a Gregório de Matos, com Epílogos (O que falta nesta cidade?) que caira como uma luva para a ocasião.
A mesa do evento até tentou disfarçar e aprovar a manifestação, mas ficou claro nos aplausos da platéia as verdades que falamos.
Não estamos aqui para brigar com o Sr. Secretário Municipal, e não temos nada contra sua pessoa, que fique bem claro, afinal seu cargo é político e não por mérito, e competência o Sr. mostrou nestes anos todos, cumpriu seu papel de político!
ESTAMOS AQUI, SENHORES, para exigir respeito e projetos reais para nós, artistas interioranos! Chega de joguetes políticos e inverdades às fuças de todos!
Nós, do Caçuá, não temos “rabo preso” com ninguém e há 10 anos, desenvolvemos um trabalho cultural exemplar na nossa cidade, na marra, sem o apoio, inclusive, da Prefeitura e da Secretaria de Cultura, recém criada, diga-se de passagem.
Então, antes de falar de Cultura, arte e educação, Sr. Secretário, vossa senhoria devia ver quem realmente tem movimentado a cultura local e valorizar seus Artistas, ao invés de ficar querendo mostrar um serviço tardio para o Governo do Estado, que agora, é do mesmo partido político que o seu.
Venha aqui e se jogue na roda conosco, de verdade, sem tanta gente olhando e cercado de políticos! Cultura e arte não se fazem sentado numa salinha com computador e cafezinho a toda hora e falando para todo mundo a mesma frase de sempre: Não tem verba para a cultura! Não tem verba para vocês!
Tô mentindo?! Agora de uma hora para outra querem me tratar bem, com se eu tivesse memória curta e me vendesse?!
Caiam na real, pois além de artistas, somos guerreiros, respeitamos nossos colegas, desenvolvemos a nossa comunidade e nem temos salário para isso! E quando não fazemos um projeto, por um motivo ou por outro, falamos verdadeiramente a nossa comunidade e lutamos para conseguir realizá-lo, de qualquer forma.
Imagine olhar para trás e ver que não se fez nada pela a cultura de sua cidade? Dá para deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo?!
Vocês invadem o nosso teatro, rouba o nosso espaço de trabalho e ensaios, e queriam que nós ficássemos calados?!
A verdade tem que ser dita! E a opinião é pública, graças a Deus e Dionísio!
Isto está acontecendo em toda a Bahia! O artista está desacreditado de tanta promessa, política e corrupção. Em Salvador explode uma bomba todo dia!
Quer dizer que agora, em 2007, tudo vai funcionar, como num passe de mágica e todo mundo vai esquecer os 10 anos de marasmo cultural na nossa cidade?!!
É uma piada?! Posso rir agora?! Pior que nem isso vocês sabem fazer, e o único palhaço, um artista maravilhoso que tinha na cidade, vocês deixaram morrer a míngua, sem trabalho!
Que vergonha, meu Deus!
Que cidade é essa? Que política cultural é essa? E ainda acham que tenho que ficar calado?! Dez anos não são 10 meses! Há muito ainda pra se falar...

Esperamos sinceramente que as coisas e projetos aconteçam e que chamem para roda quem tem se dedicado e trabalhado, verdadeiramente, para a comunidade, não elegendo gente da mesma panela política, afinal, com ou sem verba, temos sobrevivido e reconhecidos em todo Estado, e outras cidades do país, pelo nosso trabalho e competência.
Não vivemos à sombra de ninguém, temos luz própria, coragem, sangue no olho e determinação, além da força e proteção de todos nossos santos catingueiros, nossos mártires e orixás, e de Dionísio, que assim como nós, sempre lutou por esta arte transformadora!

Para saberem mais como foi este maravilhoso e singular evento em Conquista, acessem o site: www.nucleouniversitario.com.br que tem uma matéria legal sobre nossa manifestação!

Abra o olho japonesa! Fiquem espertos! Pois não temos memória curta e muita coisa ainda virá por ai...

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados”.     Mt.5:6
“Em casa de ferreiro o espeto é de pau”. Ditado Popular

Marcelo Benigno é ator, arte educador, artista popular, catingueiro e sertanejo, professor de Teatro pela Ufba, diretor do Grupo Caçuá de Teatro, em Vitória da Conquista, Membro do Conselho Fiscal do SATED-BA, e coordenador do Movai - Movimento de Valorização do Artista do Interior.




                                          
                         CARTA A MÁRCIO MEIRELES

Olá Márcio como vai?

Estamos aqui em Conquista tentando organizar a classe artística para as discussões e posicionamentos sobre as propostas culturais, que por certo virão, neste novo Governo.
Aqui em Conquista, entretanto, está uma guerra entre partidos políticos que insistem em  decidir por nós e nos representar, mesmo quando não são solicitados.
Há uma verdadeira odisséia em torno de quem será o novo coordenador do Centro de Cultura, entre outras coisas!

Na reunião do dia 16 de janeiro, com Hirton e o Superintendente Paulo Henrique ficou um tanto claro que a escolha do coordenador do Centro de Cultura não seria meramente uma decisão política. Não somos idiotas, apesar de caipiras, e sabemos como foi conduzida a cultura em nosso Estado, há anos.
Mas porque essa preocupação toda com o tal Coordenador do Centro?

Vivemos em Conquista numa luta freqüente para tentar ocupar os espaços da cidade, através dos nossos projetos, e você como ninguém,  sabe disso, mas quando a coisa envolve a política tudo muda, de uma hora para outra todo mundo é do partido vencedor ou membro efetivo dos partidos apoiadores, nessa hora, aparece gente do arco da velha se denominando admiradores convictos do partido, na busca desesperada por um cargo ou emprego em algum setor do governo.

Nós artistas trabalhamos diretamente para o desenvolvimento da nossa cidade e ficamos sempre à parte das decisões políticas, cedendo, muitas vezes, lugares a outros  que sempre querem nos representar.

Aqui em Conquista  a classe teatral tem conquistado na marra e na base de  muita luta seu espaço na cidade, sobretudo um espaço de questionamento constante!
Agora imagine, eu, artista  velho de guerra que uso o Centro de Cultura há tanto tempo, não  posso opinar sobre  quem vai “administrar” a minha casa?!
Vivemos criticando o outro, apontando defeitos e quando temos a oportunidade de fazer, repetimos os mesmos defeitos deles?!

Estamos cansados, Márcio de sermos representados erroneamente e manipulados por tantos!
Você sabe como o interior sofre pelo descaso, pela falta de informação e até pela manipulação de idéias e fatos.
Aqui o Secretário de Cultura é um ser inacessível, inatingível e isso não combina com você!
Sei que você continua sendo o mesmo guerreiro que conduzia o Vila, que não mudou, apesar de sua agenda agora não ser a mesma, mas mesmo no Vila você vivia correndo pelos projetos e sempre tinha tempo para nós, sobretudo do interior, e por isso que estamos nos dirigindo a você sem tanta formalidade!

Conquista é um pólo cultural que tem se destacado em toda Bahia como formador de artistas e de platéias.
Pergunte na comunidade quem efetivamente tem trabalhado para este crescimento?! Trabalhado com a comunidade, para o seu crescimento e desenvolvimento não trabalhar para o desenvolvimento meramente individual e isolado!

O Centro de Cultura é nosso e é um espaço importante para classe artística, e devemos ser tratados com respeito e não ficar no meio de mais uma jogada política de distribuição de cargos.

O Centro deveria ser administrado por setores, divididos por área artística e seus respectivos representantes locais.
O Coordenador geral é uma figura importante, mas quem bota a mão na massa somos nós!
Imagine se não tiver classe artística numa cidade, o que acontece? Adianta ter investimentos?  Se nós não fizermos ninguém faz!

Quando um artista de fora vem aqui e lota o nosso teatro, ele vai embora e nada faz pela nossa cidade. Nós, pelo contrário, estamos aqui, dando a cara à tapa, fazendo projetos, tentando sobreviver, Deus sabe como, tentando contribuir com a nossa comunidade.

Fico extremamente chocado com essas coisas, com a política de interesses, pois temos em Conquista a experiência de 10 anos com a administração petista e as minhas recordações não são nada boas, aliás não só as minhas, mas de toda a comunidade.
Dez anos não  são 10 dias! Pergunte a qualquer um o que o Governo Petista fez pela cultura em nossa cidade?
Sejamos realistas, já que o caso é político então!
E agora parece que é a mesma história, só mudam os personagens e lugares.

É muito bom para a cidade ser representada fora pelo sucesso e prestígio dos seus artistas  locais sem nunca ajudar ou participar desta conquista. Nós, por mais que não queiramos, sempre vamos levar a nossa cidade conosco, pois faz parte da nossa história, mesmo que não recebamos nenhum apoio para realizar uma ação cultural sequer!
Não adianta ter mérito e respaldo da comunidade local e de fora, pois as decisões sempre são tomadas e não nos envolvem!

A disputa aqui tá feia e as apostas estão na praça!
Dois nomes foram indicados, por dois partidos diferentes, da mesma coligação, para o cargo Centro de Cultura,  e a briga está rolando numa disputa tanto feia quanto suja!

É lamentável ver isso para um Governo que se diz dono de uma nova postura de mudança!

Gostaria muito que você esclarecesse essas questões com toda a sinceridade que estou tendo agora.
Para você ter uma idéia, só nós de teatro estamos chamando para a discussão, como sempre, os outros só aparecem para colher os louros alheios!

Nessa hora todo mundo é artista, bem relacionado, bem sucedido com experiências de sucesso, e até conhece o Secretário de Cultura pessoalmente, etc e tal.
O nosso interesse é com o desenvolvimento cultural da nossa região e da continuação dos nossos trabalhos e com a transparência dos fatos!

Nós, de Teatro, temos feito muito pela nossa cidade, apesar de outros segmentos culturais terem mais espaços e investimentos que nós.
Artistas populares e sem dinheiro não têm o espaço que merecem, e além do mais, temos opiniões próprias, mobilizamos pessoas, formamos opiniões e isto incomoda  muita gente!

Estamos cansados, Márcio de um jogo que agente tanto critica, mas que acabamos fazendo igual!

Domingo, dia 04 próximo, teremos uma reunião o dia todo, aqui em Conquista, para mais uma vez sentarmos para viabilizar propostas para a nossa região e gostaríamos de saber de você como vamos ficar!

Para que ficar planejando se a política sempre vai estar na nossa frente decidindo tudo de forma arbitrária?!

E falando em política,  você não deve saber, mas quando o PT ganhou em nossa cidade, há 10 anos, derrotando uma administração do PFL, como aconteceu agora em Salvador, houve uma sensação geral de alívio e esperança,  todos achávamos que as coisas iam melhorar e que íamos construir uma nova página da história onde a democracia blá, blá, blá... Passaram um, dois, três, dez  anos e  nada!
Assim também em outras cidades do interior administradas pelo PT, onde a cultura não teve espaço e nem verbas!
Seria um bom artigo fazer uma avaliação sobre a cultura no Governo do PT.

Vocês de Salvador estão passando por algo que já passamos aqui e para nós da cultura não aconteceu nada! Gato escaldado tem medo de água!

Nós aqui só queremos seriedade e seja qual for o governo estamos questionando por melhorias.
Não queremos, mais uma vez, entrar num jogo político e fingir que está tudo muito bom!

Joguem limpo conosco para terem o apoio dos verdadeiros artistas conquistenses, pois  não estamos aqui lutando e trabalhando há tanto tempo para esperar por mais 10 anos para termos as mesmas conclusões.

Estou me dirigindo a você com toda sinceridade e angustia de artista catingueiro e gostaria do seu parecer para nos posicionarmos diante da nossa comunidade  e dos grupos  a qual mobilizamos!
Lembra do texto da peça “Esse Glauber”?
No folder você disse que ao invés de ser um cordeiro, (metáfora aos personagens do texto), que vai para o abate calado, manso, você é como um cabrito ou bode, que grita e se esperneia, fazendo barulho até a morte! Aprendemos com você a brigar e lutar por nossos direitos, e, sobretudo, a acreditar na nossa força e no poder mobilizador da nossa  arte!

Obrigado pela atenção!

Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Viva o interior e o artista popular!

Marcelo Benigno
Vitória da  Conquista, 27 de fevereiro de 2007.




Água mole em pedra dura... é a última que morre?!
Novo Governo, novos olhares e nova cultura para a Bahia.


Diz o ditado popular que “Quem espera sempre alcança”, mas prefiro dizer que quem espera demais, às vezes cansa, desilude, enfraquece e até morre, principalmente se a questão for a cultura em nosso país, sobretudo, no interior baiano.
Mas se “Água mole em pedra dura tanto bate, até que fura” o ano de 2007 promete ser de transformação cultural na Bahia, aja vista a proposta do novo Governo de Jaques Wagner no Estado, onde a palavra Regionalização Cultural vem seguida de valorização do artista local e popular.
Tivemos, entre dias 18 e 19 do mês de janeiro, a ilustre visita de dois representantes da Secretaria de Cultura do Estado, em nossa cidade, o Professor Hirton Fernandes e o Superintendente Paulo Henrique, ambos, com propostas esclarecedoras a respeito da nova política cultural para a Bahia.
À princípio, matuto como sou, fiquei só observando, desconfiado, pois cansado de guerra e de tantas promessas que nunca se realizam, este artista popular está devoto fervoroso de São Tomé, embora nunca perca a esperança no seu povo, na sua cultura e arte.
Nas duas reuniões, a primeira realizada no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e a outra na Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura, estiveram presentes representantes dos principais segmentos artísticos de Conquista, da Prefeitura e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, entre outras instituições culturais conquistenses.
Durante as reuniões foi unânime, nas falas dos representantes de Salvador, a questão que o Governo do Estado pretende valorizar o artista local e transformar os Centros de Cultura, outrora administrados pela Fundação Cultural do Estado, e espalhados pelo interior, em pólos aglutinadores e incentivadores da cultura local, tornando-os centros de transformação para a sua cidade e cidades circunvizinhas.
A idéia é fabulosa e temos trabalhado por ela desde então.
Mas para que isso aconteça deverá haver em toda a Bahia uma revitalização e crença nos artistas interioranos, que há décadas, são desvalorizados e inferiorizados frente aos artistas e projetos das capitais.
Como não tenho memória curta, fizemos várias destas reuniões em gestões políticas anteriores e nada se conseguiu ou muito pouco.
Em 2005, por exemplo, escrevemos através do MOVAI- Movimento de Valorização do Artista do Interior um Documento durante o Projeto Teatro de Cabo a Rabo que acontecia nas dependências do Teatro Vila Velha, em Salvador, sob a coordenação de Márcio Meireles, hoje Secretário de Cultura do Estado.
Na presença de todos os participantes li um artigo que publiquei, questionando mais ações culturais para o interior e, sobretudo, exigindo respeito e projetos para nós. Na época, a própria Funceb abria seu edital de auxílio a montagens de teatro e dança e os valores para o interior e capital representavam a sua visão sobre o artista do interior, sendo que para o artista da capital o Prêmio era de 48 mil e para o interior 6 mil. Ano passado o Prêmio para a capital foi de 60 mil e para o interior de 8 mil. Dá para acreditar?!
O texto ressoou em uníssono entre todos os artistas interioranos participantes do Teatro de Cabo a Rabo e o transformamos em documento, ao qual foi encaminhado para a Funceb e que relembro algumas destas ações agora:

  • Criação de Centros Culturais equipados ou revitalização dos já existentes, em cada cidade, para a utilização dos artistas locais;

  • Criação de um Censo Cultural que registre os artistas que estão trabalhando efetivamente em cada região;

  • Criação de uma rede de intercâmbio entre os artistas do interior com o próprio interior e com os artistas da capital;

  • Criação nos Centros de Cultura, mantidos pela FUNCEB no interior do Estado, de espaços e Projetos de trabalho para os artistas locais, inclusive, menores taxas nas pautas de aluguel das salas e dos próprios teatros para a classe artística local;

  • Priorizar no Calendário e Programação dos Centros de Cultura de cada cidade atividades culturais e artísticas, ao invés de eventos de outras naturezas, que acabam por descaracterizar o propósito dos Centros de Cultura em cada cidade;

  • Participação dos artistas locais na indicação dos Coordenadores dos Centros de Cultura nas suas Cidades, evitando indicações políticas e fora da área de atuação cultural e artística de cada município;

  • Valorizar os artistas interioranos através de um atendimento digno nos Centros de Cultura locais, nos Projetos da FUNCEB, evitando comparações arbitrárias, desiguais e preconceituosas;

  • Inclusão dos artistas do interior em editais que visem o incentivo à produção artística do interior;

O documento não pára por ai e está repleto de ações que precisamos!
Entretanto, para que tudo isso saia do papel vai depender da participação dos artistas locais que são os reais responsáveis pela movimentação cultural em suas cidades.

Transformar os Centros de Cultura em espaços aglutinadores e fomentadores da cultura exigirá investimentos e uma coordenação local forte, ligada à classe artística local, não sendo uma indicação política como acontecia no governo anterior.

Nas reuniões em Conquista, os representantes do Governo do Estado foram enfáticos ao afirmarem que o Governo valorizará o artista local e que o cargo do Coordenador do Centro de Cultura não será uma indicação política.
Esperamos que erros cometidos por ouras gestões sejam esquecidos e enterrados e que finalmente dêem ouvidos a quem faz a cultura e arte em cada cidade do interior.
Imagine como é em todas as cidades que possuem Centros de Cultura com coordenadores equivocados e/ou indicados por mero acordo partidário?
Falo assim, pois em dois anos percorri os Centros de Cultura do Interior e a mesma história se repete, seja em Conquista, Valença, Alagoinha, Jequié, ou nas outras cidades com Centros de Cultura em todo o Estado.

Estamos entusiasmados, com esperança de renovação, mas sem tapar o sol com a peneira, com os olhos bem abertos para que o artista local tenha vez e voz, seja realmente valorizado como merece e que os créditos e suor derramados pela cultura regional sejam enfim reconhecidos, não creditados a outrem ou representados por nomeações políticas.
Chega de apropriações indevidas da nossa cultura e arte por estrangeiros ou falsos representantes que só querem levar o mérito das nossas causas e valores, de uma falsa política cultural que nunca funciona! “Quanto vale ou é por quilo?” Salve, Salve Sérgio Bianchi!!
Queremos investimentos, trabalho e parcerias para continuar com o nosso ofício, contribuindo com a nossa comunidade. A nossa peleja já dura muito tempo, todos conhecem nossos problemas e até as soluções, e nós, sabemos do que precisamos!!
Enquanto esse dia não chega e o sol não esfria, continuamos na labuta por dias melhores, por uma cultura e arte transformadoras e destinadas a todos (as)!
“O boi é quem sobe, o carro é que geme.”
Avante, novo dia! Até o Seminário de Cultura em março.


Marcelo Benigno é ator, arte educador, diretor do Grupo Caçuá de Teatro em Vitória da Conquista, licenciando em Teatro pela Ufba, membro do Conselho Fiscal do SATED-BA, catingueiro arretado e guerreiro pela arte no interior baiano.



                                          VERSÃO PUBLICADA EM REVISTA
Água mole em pedra dura... é a última que morre?!
Novo Governo, novos olhares e nova cultura para a Bahia.


Entre dias 18 e 19 do mês de janeiro, recebemos a ilustre visita de dois representantes da Secretaria de Cultura do Estado, em nossa cidade, o Professor Hirton Fernandes e o Superintendente Paulo Henrique, ambos, com considerações esclarecedoras a respeito da nova política cultural para a Bahia, haja vista a proposta do novo Governo de Jaques Wagner no Estado, onde a palavra Regionalização Cultural vem seguida de valorização do artista local e popular.
À princípio, matuto como sou, fiquei só observando, desconfiado, pois cansado de guerra e de tantas promessas que nunca se realizam, este artista popular está devoto fervoroso de São Tomé, embora nunca perca a esperança no seu povo, na sua cultura e arte.
Nas duas reuniões estiveram presentes representantes dos principais segmentos artísticos de Conquista, da Prefeitura e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, entre outras instituições culturais conquistenses e foi unânime, nas falas dos representantes de Salvador, a questão que o Governo do Estado pretende valorizar o artista local e transformar os Centros de Cultura, outrora administrados pela Fundação Cultural do Estado, e espalhados pelo interior, em pólos aglutinadores e incentivadores da cultura local, tornando-os centros de transformação para a sua cidade e cidades circunvizinhas.
A idéia é fabulosa e temos trabalhado por ela desde então!!
Mas para que isso aconteça deverá haver em toda a Bahia uma revitalização e crença nos artistas interioranos, que há décadas, são desvalorizados e inferiorizados frente aos artistas e projetos das capitais.
Transformar os Centros de Cultura em espaços aglutinadores e fomentadores da cultura exigirá investimentos e uma coordenação local forte, ligada à classe artística local, não sendo uma indicação política como acontecia no governo anterior.
Esperamos que erros cometidos por ouras gestões sejam esquecidos e enterrados e que finalmente dêem ouvidos a quem faz a cultura e arte em cada cidade do interior.
Estamos entusiasmados, com esperança de renovação, mas sem tapar o sol com a peneira, com os olhos bem abertos para que o artista local tenha vez e voz, seja realmente valorizado como merece e que os créditos e suor derramados pela cultura regional sejam enfim reconhecidos, não creditados a outrem ou representados por nomeações políticas.
Queremos investimentos, trabalho e parcerias para continuar com o nosso ofício, contribuindo com a nossa comunidade.
Enquanto esse dia não chega e o sol não esfria, continuamos na labuta por dias melhores, por uma cultura e arte transformadoras e destinadas a todos (as)!
“O boi é quem sobe, o carro é que geme.” Até o Seminário de Cultura em março.

Marcelo Benigno é ator, arte educador, diretor do Grupo Caçuá de Teatro em Vitória da Conquista, licenciando em Teatro pela Ufba, membro do Conselho Fiscal do SATED-BA, catingueiro arretado e guerreiro pela arte no interior baiano.

ANO 2005



       Tanta Vitória Artística para uma Conquista Morta

                                                                                              Por Marcelo Benigno*


Prometi a mim mesmo que não voltaria a falar da decadência artística em que se encontra minha cidade, mas tem coisas que precisam ser ditas, principalmente para aqueles que insistem em se fazer de surdos, cegos e mudos no cenário político e cultural na terra de Glauber Rocha.
Vivemos uma fase de efervescência cultural dos artistas conquistenses e da arte de Conquista fora de sua cidade.
A mais recente vitória foi a do dançarino e coreógrafo Chefinho Santos, que foi selecionado numa Audição super concorrida, que aconteceu neste mês de agosto, para o Ateliê de Coreógrafos Brasileiros - Ano V, evento que acontece anualmente, em Salvador, promovido pela EP Produções.
Chefinho concorreu com mais de 260 candidatos para ocupar umas das 35 vagas, para bailarino, em um dos quatro espetáculos que serão desenvolvidos durante o período de dois meses, na capital baiana. Ele participará do espetáculo concebido pelo coreógrafo soteropolitano, Jorge Alencar, e deverá estrear no mês de outubro, deste ano, no Teatro Castro Alves, com os demais espetáculos que fazem parte do mega evento da Dança Contemporânea, em Salvador.
Todos da equipe do Ateliê se sentiram orgulhosos com a presença do talentoso dançarino conquistense vindo do interior. Só que o mesmo não acontece na sua cidade...
Infelizmente em Conquista a arte tem tido um descaso fulminante. A maioria de seus artistas está saindo da cidade buscando reconhecimento e trabalho fora dela. E não é só na área da dança, não!
Recentemente estive participando do VI Festival de Cenas Curtas do Grupo Galpão, com o trabalho: Entre a Cruz, a Espada e a Estrada - Como nasce um artista Sertanejo que aconteceu em junho, deste ano, em Belo Horizonte. Não obstante, não recebi apoio algum de nenhum órgão, empresa, político ou agiota conquistense, apesar deste trabalho ter sido o único selecionado, de todo o Nordeste, para tal festival. Se não fosse pelo o apoio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, em Salvador, e da sensibilidade do Professor Armindo Bião, tal oportunidade de mostrar um pouco da nossa cultura, em outra região do pais, não seria possível!
Neste ano cinco trabalhos conquistenses, entre teatro e música, estão participando do Projeto Circuladô Cultural, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, que leva espetáculos de música, dança e teatro, além de oficinas culturais para o interior baiano.
Estamos tendo a oportunidade de mostrar o nosso trabalho fora da cidade, sendo Conquista, a única cidade do interior com tantos trabalhos selecionados neste projeto até agora.
Não obstante, fui selecionado para dar oficinas de teatro, nos Centros de Cultura do interior, neste mesmo Projeto, que custeia somente o cachê do ministrante, ficando as outras despesas por conta dos “parceiros culturais” nas cidades as quais atinge.
Vocês acreditam que mesmo tendo indicado Conquista para receber este Projeto não consegui apoio sequer para as passagens?! Mas quando “neguinho e branquinho” “quer por banca” em Salvador, sabe falar que me conhece e ainda me patrocina e ajuda sempre!
É mole ou quer mais?!
Completando mais vitórias, a Cia Finos Trapos com a direção de Roberto de Abreu e composta por alunos da Escola de Teatro da Ufba, na sua maioria, de artistas teatrais conquistenses, radicados em Salvador, ganhou o Prêmio Estímulo da Fundação Cultural para a Montagem de Espetáculo de Pequeno Porte e o grupo escolheu Conquista para ser o palco de sua apresentação. Pode uma mãe ser tão ingrata e cruel com os seus filhos?!
Mas em Conquista pode tudo, desde transformar a Sala Polivalente, (única sala maior para oficinas), do Centro de Cultura, em Escritório da Universidade, ao filho ou namorada do dono da loja fazer comercial na tv...
E AINDA DIZEM QUE TEMOS UMA SECRETARIA DE CULTURA NA CIDADE!!!
Verdadeiramente, a Secretaria de Cultura de Conquista, criada neste ano, só existe nos contra-cheques dos seus funcionários, pois nunca fez nada pelo artista da cidade e quando solicitamos alguma ajuda ou patrocínio para a efetivação de projetos culturais dizem que não se tem recursos, etc e tal, ou inventa-se uma nova burocracia. Se não tem recursos porquê existir tal Secretaria? Por que para a Micareta, Natal da Cidade e artistas de fora saem sempre verba e capital?! Ainda não esqueci dos cachês gigantescos das atrações de fora e dos contratos políticos feitos nesses anos todos.
Aliás, eu não tenho memória curta mesmo, e já são quase 10 anos desta mesma história! Será que vai ter que mudar de governo para alguma coisa acontecer?! (...)
Dizem os altos falantes que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará em Conquista, nesta a quarta feira, dia 17 de agosto de 2005, inaugurando mais um projeto de sucesso.
Se a credibilidade do Governo Federal está em baixa, Conquista não é bom exemplo de incentivo à cultura e arte locais e nem de credibilidade com sua população e artistas que esperam por cultura, lazer e arte. Afinal, será que “eles, os homens”, sabem mesmos distinguir e conceituar estas três coisas, ou só falar em números e mostrar as bolsas de auxilio aos pobres e miseráveis?
Ter boa índole e dignidade hoje em dia é sinônimo de burrice ou ignorância, num país onde a maioria dos poderosos tem cuecas gordas e pastas abarrotadas de dinheiro sujo ou vindo dos nossos impostos e votos de confianças nas urnas eleitorais. Aliás, onde estão os três deputados conquistenses que elegemos e mandamos à Brasília? E os vereadores locais, cada vez mais apáticos e sem propostas culturais para a cidade? E o empresariado local que acredita na sua cidade? Já viram como estão o desemprego e violência em Conquista?
Pois, é! Não adianta tanta vitória por parte dos artistas mongóios quando na prática, a roubalheira e ostracismos estão soltos, e político, como diz meu pai, é tudo igual.
Só o tempo dirá se esta situação continuará a mesma, em todos os aspectos, nesta nossa cidade e neste país das maravilhas que luta diariamente para se achar.
Levanta Brasil! Ressuscita Conquista!
Até lá, continuaremos trabalhando e exigindo RESPEITO E DIGNIDADE para os artistas do interior. “Nois é Jeca, seu dotor, mais nois não é besta, não!” Ano que vem se aproxima...
E quando me elogiarem num próximo festival ou trabalho, ressaltando o fato de ser um artista interiorano, catingueiro, batalhador e me perguntarem como é a política cultural na terra de Glauber Rocha, que hoje é comandada pelo partido do Governo Federal, direi em luto e sem ressentimentos:
A arte em Conquista, meu caro, está morta!

*Marcelo Benigno é ator, arte educador, diretor do Grupo Caçuá de Teatro em Conquista, graduando em Artes Cênicas - Licenciatura pela Ufba, membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado da Bahia - SATED, idealizador e coordenador do MOVAI - Movimento de Valorização do Artista do Interior.




 Em casa de ferreiro o espeto, que não faz milagre, é de pau.
                       Projeto de Teatro da TV Sudoeste exclui artistas da terra


Sou um apaixonado pela cultura popular, principalmente no que se trata das crendices, ditados, parlendas e mitos, que fazem da nossa literatura, um acervo vivo de pesquisas cada vez mais regionais e autênticas ligadas à comunicação do nosso povo, que sempre inventa um “dizê” para explicar suas histórias, conselhos e situações.
Mas falando em tradição, valores e arte locais, os ditados mais conhecidos me vêm à tona para explicar o título deste texto e evocar a sabedoria nossa para tentar entender o objeto destas linhas, e as causas desta antiga e instigante questão.
Nesse ano, mais uma vez a TV Sudoeste, emissora sediada em Vitória da Conquista e filiada a Rede Bahia, que por sua vez é filiada a Rede Globo de Televisão abre as atividades do seu Projeto Verão, tendo como extensão o Projeto Janelas para a Cultura, que tem como objetivo, levar apresentações de teatro para a região sudoeste da Bahia.
Entretanto, nesse ano de 2005 os artistas conquistenses ficaram excluídos da programação, sendo toda ela destinada a grupos de fora, principalmente da capital baiana.
Estando em Salvador e sendo artista conquistense fiquei pensando qual seria o motivo de tal exclusão e porque sempre as atividades de fora têm privilégios sobre as atividades e artistas locais.
Procurei no histórico da TV Sudoeste, olhando o sol sem peneira, algo que explicasse tal atitude da emissora local, que sempre, diga-se de passagem, apoiou seus artistas locais ao longo de sua história.
Para ser ter uma idéia, em 1996 já participava como artista teatral, do Projeto Pôr do Sol, onde a TV levava, aos principais bairros da cidade, várias atividades culturais como a dança, atividades esportivas, artes marciais, manifestações populares e o teatro, que se apresentavam para milhares de pessoas, que atentamente apreciavam todas as apresentações que finalizavam com um grande show musical.
A estrutura do projeto era grande, com palcos imensos instalados nos bairros e praças da cidade semanalmente, assim como o esforço de toda a equipe que, literalmente, levava a arte onde o povo estava.
Em 1997, estava em turnê na cidade de São Paulo e mesmo assim, vim para apresentar-me nesse mesmo Projeto.
Anos depois, o projeto mudou seu formato inicial sendo apresentado num único local no centro da cidade, com palco fixo. Continuei participando com o meu grupo, porém após tantas adaptações e mudanças no projeto, as atividades artísticas foram suprimidas pelas necessidades esportivas do mesmo.
Hoje, o Projeto mudou de nome e restringe a shows musicais e a atividades esportivas, ora ligadas a aulas de academias de ginástica e musculação, ora a esportes radicais, ora a dança axé da moda repetida e imitada por jovens e crianças que passam pela praça. Como se vê, perdemos mais uma vez um espaço conquistado, justo agora num momento de revitalização do teatro conquistense.
No ano passado surge então o Projeto Janelas para a Cultura que ressuscitava o teatro como manifestação artística na cidade. Nesse mesmo ano, nós, artistas teatrais conquistenses, conseguimos participar porque a Prefeitura da Cidade era parceira do Projeto e exigiu a participação dos grupos locais.
Porém o tratamento com os artistas da terra foi bastante diferente e até engraçado.
Para se ter uma idéia, no cartaz de divulgação do Projeto a foto do espetáculo da terra era minúscula e mal dava para ler o que estava escrito, sem mencionar o desrespeito e diferenciação explícitos em outras coisas menores e sacanas.
Vocês acreditam que nem água tinha nos camarins dos artistas conquistenses?!
Não obstante, que num dia após a apresentação do meu Grupo estávamos todos ensaiando no Centro de Cultura e vimos o grande “bifê” (é assim que se escreve, é tão chique que nem sei escrever) de frutas, bebidas, (inclusive água!), doces e salgados destinados aos artistas convidados, com toda a pompa e circunstância que os conquistenses sabem fazer para quem é de fora. Disso ninguém lembra ou menciona, afinal, filho de peixe, peixinho é, e cada macaco no seu galho, pensei. (...)
Mas o mérito dessa discussão não são estes detalhes sórdidos de produção e nem a participação dos grupos de fora no projeto, ou a óbvia praticidade oportuna de espetáculos da capital, (somos de paz e respeitamos a todos), mas a ausência de representação local ou a distinção no tratamento aos artistas da casa, que há anos vem contribuindo para o crescimento artístico da cidade e, por conseguinte, da emissora, que está localizada e destina-se a população do Sudoeste da Bahia e que, por excelência, deve incentivar os artistas e cultura da sua região. Concordam comigo?
Não quero ficar como a água mole em pedra dura, tanto bate até que fura vendo que muitas vezes quem tem um olho só, em terra de cego, é rei, e que sempre o que vem de fora será mais valorizado e prestigiado que os “santos da casa” que para sobreviver de arte, no interior, fazem mil milagres por dia.
Se estamos questionando é justamente para estabelecer um diálogo e não ficar vendendo uma imagem irreal e maquiada (que ironia), da arte, teatro e da mídia na cidade das rosas. Afinal, em televisão tudo são flores, mas na realidade a corda só quebra do lado dos mais fracos, dos mais desinformados, nunca dos mais manipuláveis e interesseiros, pois quem tem unha maior sempre sobe nas paredes alheias passando por cima de tudo e olhando só para o seu umbigo “talentoso” e bem relacionado.
Por isso lançamos em Salvador, o MOVAI - Movimento de Valorização do Artista do Interior, que tem como objetivo questionar e criar um espaço de discussão para os artistas sertanejos e interioranos que sofrem por falta de políticas públicas destinadas a eles, incentivos e projetos artísticos em suas cidades, e atitudes de exclusão, como esta, vindo de um órgão de comunicação importante para a cidade e formação de opinião pública.
Como as pessoas vão gostar do seu teatro se ele não é divulgado?!
Por que só há projetos e incentivos a artistas de fora?!
Por que tanta distinção e preconceito, senhores?!
Estamos de olho para que não só as janelas, mas as Portas da Cultura sejam escancaradas para quem realmente trabalha diariamente na sua cidade, seja no interior, na capital ou em qualquer lugar em prol da verdade, ética e de uma arte destinada a todos, em todos os seus aspectos, facções e interesses.
Para nós, quem espera às vezes cansa,
Saco vazio não fica em pé.    
E adaptando a sabedoria popular, em prol da verdade e do silêncio acomodado de alguns, recrio o meu ditado arretado e rasteiro:
Uma andorinha só não faz? Verão!

Marcelo Benigno é ator, arte educador, graduando em Artes Cênicas pela Ufba, diretor teatral e idealizador do MOVAI - Movimento de Valorização do Artista do Interior.

ANO 2004

                                                                      
                                            6 x 8 = 48
Quanto vale o artista do interior?
A Fundação Cultural do Estado da Bahia responde!
 
 
Está se aproximando o final do ano.
É hora de fazer aquele balanço do que foi proveitoso, improdutivo, equívocos e acertos nessa louca roda viva, da vida.
Como artistas, nós do interior sofremos mais uma vez com as ausências de incentivos e políticas públicas voltadas para nós, isso tanto no âmbito municipal, estadual e federal.
Na minha cidade, por exemplo, Vitória da Conquista, os interioranos só têm vez para tapar os buracos nos grandes eventos que acontecem na cidade. As melhores atrações do país participam das Festas Conquistenses mais importantes, entretanto, o artista da terra, é esquecido, aceitando na maioria das vezes, a justificativa mais óbvia.
Em oito anos de administração petista em Conquista, o Governo pouco vez para a arte conquistense, principalmente para o seu teatro.
Agora há uma retomada, uma vontade de fazer que, entretanto, não apagará o passado.
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, outra instituição importante na cidade,
não possui mais seus 10 grupos de arte, pertencentes ao Projeto Grupos de Arte da Uesb que levavam o teatro, a dança, o canto coral e a capoeira as comunidades acadêmicas e locais das cidades de  Jequié, Conquista e Itapetinga.
Os apoios culturais são restritos às limitações orçamentárias da instituição, que hoje, tem a renda compatível com a da cidade. Além disso, a universidade hoje administra o Centro de Cultura de Conquista, ligado a Fundação Cultural do Estado da Bahia, sem saber sequer o que é um DRT ou que tipo de artista e projetos sociais usam suas dependências físicas, muitas vezes alugadas e destinadas a todos os tipos de eventos, menos os culturais.
A UESB tem estado presente, da forma que pode, nos apoios culturais a seus artistas. Mas precisamos de uma política cultural mais definida, não meramente, de patrocínios isolados visto que é uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, e a arte e cultura são fundamentais, não só no papel, para o seu desenvolvimento como Universidade Respeitada que é.
No nosso Estado, a Fundação Cultural do Estado da Bahia, que poderia muito bem ser a Fundação Cultural da Cidade de Salvador vem mostrando que não se preocupa com o artista e a arte no interior.
Há quase uma década esta Fundação não abre edital de auxílio à montagem para dança e teatro no interior baiano. Nesse ano, ela resolve agraciar os interioranos com tal dádiva, só que a disparidade nos valores e as comparações entre interior e capital são nítidas nos índices do edital, e o mais grave, revela como a própria Fundação Cultural vê e valoriza seus artistas e arte interioranos.
Nota-se que para o Edital destinado ao Interior baiano foi concedido um valor de 6 mil reais, para os custos totais com a produção de um único espetáculo, e para a capital, o valor foi de 48 mil reais, também para um único espetáculo. E ainda falam que no interior eles abriram mão dos DRTs e da Firma de Produção porque os interioranos não tem ou entendem destas coisas!
É mole ou quer mais?
Quanto vale o artista interiorano?
A Fundação Cultural responde: Oito vezes menos que o nosso artista da capital!
O que que é isso, minha gente?
Estão achando que nós somos o quê?
A Fundação acha que nós somos idiotas ou quer manipular também a nossa arte?
Que argumento o Professor Bião, a artista Irma Vidal e o Sr. Paulo Gaudenzzi terão para tal disparate?
Queremos uma resposta!
Que vergonha, meu Deus!
Que vergonha!
Que pais é esse?
Na verdade, isso tudo reflete a grande e constante preocupação da Fundação Cultural e da sua pseudo-hegemonia sobre o interior.
O interior só é visto como depósito dos artistas da capital, que com os seus produtos mais variados, muitas vezes de qualidade duvidosa, invadem as caatingas sertanejas com seus espetáculos de divas famosas, que sequer, sabem que cada interior possui uma tradição artística e cultural. Cada vez que um grupo de artistas famosos vai para a interior, o festival de sandices e glamour aumenta. Salvo aqueles que são verdadeiros artistas e não se colocam num pedestal de superioridade imbecil. E ainda acham que com isso, está se formando platéia no interior! Pois os coitadinhos do interior, não tem sequer, opções de cultura, e as nossas peças passam na televisão, ou melhor, na Rede Globo, afirmam as divas mais convictas!
Vê se no Projeto Circulação Cultural se não houver a participação de um produtor local, que na maioria das vezes, são os artistas locais, o que acontece?
Pergunte aos artistas que participaram do Circulação Cultural e poderão ver que não estou mentindo.
“O que falta nesta cidade? É verdade!”
E essa queixa não é só minha. No Encontro em Preparação ao Seminário Nacional sobre Cultura Popular, realizado em Salvador, pelo Ministério da Cultura, no dia 26 de outubro desse ano, todos os artistas populares e interioranos reclamaram e exigiriam que problemas e preconceitos como estes acabassem.
Já estamos cansados de nas nossas próprias cidades sermos trocados pelos artistas de fora, que são sempre os melhores do mundo!
Já estamos cansados das apropriações erradas da nossa cultura popular!
Já estamos cansados de tanta sujeira, mentira e enganação!
E eu como artista catingueiro, formador de opinião, trabalhador ético e digno, tenho que engolir tudo isso calado e deixar que façam da minha cultura e arte, que para mim, são as coisas mais importantes na vida, um lugar de comércio prostituto, mercenário e totalmente exclusivista?!
Cadê o SATED nessa história?Aliás, temos um sindicato atuante?! Qual sua função, além de tirar o DRT?
O MOVAI- Movimento de Valorização do Artista Interiorano tem por objetivo questionar e criar um espaço de discussão e valorização dos artistas interioranos nas suas cidades, através de projetos culturais, intervenções urbanas, pesquisas de opinião pública sobre a relevância  e importância da cultura, arte e artistas interioranos para as suas cidades.
Redefinir o papel da cultura e arte em cada cidade, exigir prioridades, para quem realmente trabalha dia-a-dia para a mudança deste quadro de pesos e medidas, comparações e favoritismos que ninguém entende.

Senhores, cresçam e apareçam! Venham ao interior e vejam quem realmente movimenta a cultura local.
Se dependêssemos dos apoios do poder público, municipal, estadual e federal, já estaríamos mortos e enterrados, como o palhaço conquistense Charles Cerdeira, que morreu a míngua, por falta de trabalho e atenção à cultura teatral na nossa cidade! Hoje seu nome estampa uma arena numa escola municipal. Belo prêmio, não?!
Não queremos nada além de continuar exercendo o nosso ofício e trabalhando com a dignidade que merecemos. É pedir muito? Ou isso não é apenas cidadania, como se diz nos projetos políticos e culturais da capital e interior?
Gostaria de não ter razão no que falo, mas felizmente dignidade não se compra com 6 mil reais ou com sorrisos e aprovações em Projetos por simpatia, ou exclusivismos costumeiros.
Vale a pena lembrar que a opinião é pública e se estamos falando é porque nunca nos deram voz, nunca nos ouviram, nunca nos levam a sério, só nos enrolam com as burocracias conhecidas das más vontades soteropolitanas.
Ficar envolvendo arte com política e / ou interesses particulares é tão velho, sujo e oportuno, principalmente por parte de quem vem.
Cultura e arte se fazem com diálogo aberto com que faz, não com imposições, deduções e promessas que nunca chegam.
Nesta ceia natalina, junto com o ano vindouro, nós, artistas interioranos só queremos duas coisas:
Dignidade e Respeito!
Faça-se, Divulga-se, Cumpra-se!


Marcelo Benigno é ator, arte-educador, produtor cultural, diretor do Grupo Caçuá de Teatro em Vitória da Conquista, aluno da Escola de Teatro da Ufba, sertanejo verdadeiro que sempre lutará pela ética e clareza com a nossa arte teatral, no interior baiano.






 DOCUMENTO MOVAI – Movimento de Valorização do Artista do Interior


           Em reunião no Teatro Vila Velha no dia cinco de dezembro de 2004, os Grupos Teatrais do Interior que participaram da mostra do Projeto Teatro de Cabo a Rabo III, aderiram ao MOVAI - Movimento de Valorização do Artista do Interior, que tem por objetivo criar um espaço de discussão e valorização dos artistas interioranos nas suas cidades, através de políticas culturais públicas, intervenções artísticas, pesquisas de opinião sobre a relevância e importância da cultura, da arte e dos artistas interioranos para as suas cidades. Redefinir o papel da cultura e arte em cada município. Exigir prioridade para quem realmente produz na sua região, através de políticas culturais claras e projetos consistentes de qualificação profissional nas áreas artísticas, editais e prêmios de incentivo à produção destinados a todos de maneira ética, justa e digna.
         Decidiu-se fazer uma carta documento contendo algumas propostas de ações a serem realizadas pelos responsáveis pelas políticas culturais nas três esferas do poder: municipal, estadual e federal:

  •  Criação de Centros Culturais equipados ou revitalização dos já existentes, em cada cidade, para a utilização dos artistas locais;

  •   Criação de um Censo Cultural que registre os artistas que estão trabalhando efetivamente em cada região;

  •  Criação de leis municipais de incentivo à cultura nos municípios onde ainda não existem e efetiva aplicação da lei onde já existe;

  •  Fortalecimento dos órgãos de cultura municipais, com autonomia financeira, para o desenvolvimento de políticas públicas claras de apoio à produção local;

  •  Criação de Fundos Municipais de Investimento para a produção e manutenção dos grupos artísticos locais;

  •  Inclusão dos artistas locais no calendário anual de festas e eventos culturais de suas respectivas cidades;

  • Criação de sistemas de divulgação dos grupos e artistas interioranos através de:

-  Calendários de atividades artísticas em cada município;
- Criação de portais eletrônicos ou sites de divulgação dos artistas e produção cultural de cada cidade;
- Efetivação das Assessorias de Comunicação existentes nas próprias Prefeituras locais para Assessorias Artísticas e Culturais de cada cidade;

  •  Regionalização e ampliação dos recursos e Projetos mantidos pela FUNCEB como: Projeto Circulador Cultural, População Cultural, Salões de Artes Plásticas, Edital de Auxílio à Montagem para Teatro e Dança no interior baiano;


  •  Que a avaliação dos projetos em editais para a circulação de grupos pelo interior leve em conta a qualidade das propostas de intercâmbio com os artistas locais com o mesmo rigor e critério com que avalia a qualidade do espetáculo;

  • Que os projetos que levam artistas e grupos do interior para outras cidades, especialmente capitais, promovam e facilitem o contato e o intercâmbio com os artistas e grupos locais;

  • Intensificação da participação de grupos e produções do interior no Projeto Circulador Cultural;

  •  Circulação pelas cidades do interior baiano dos espetáculos e trabalhos dos grupos interioranos, através do Projeto Circulador Cultural da FUNCEB ou de outros Projetos a serem criados, contemplando os artistas interioranos;

  • Criação de uma rede de intercâmbio entre os artistas do interior com o próprio interior e com os artistas da capital;

  • Estruturação física e profissional dos Centros de Cultura mantidos pela Fundação Cultural nas cidades do interior baiano;

  • Criação nos Centros de Cultura, mantidos pela FUNCEB no interior do Estado, de espaços e Projetos de trabalho para os artistas locais, inclusive, menores taxas nas pautas de aluguel das salas e dos próprios teatros para a classe artística local;

  • Participação dos artistas locais na indicação dos Coordenadores dos Centros de Cultura nas suas Cidades, evitando indicações políticas e fora da área de atuação cultural e artística de cada município;

  • Priorizar no Calendário e Programação dos Centros de Cultura de cada cidade atividades culturais e artísticas, ao invés de eventos de outras naturezas, que acabam por descaracterizar o propósito dos Centros de Cultura em cada cidade;

  • Valorizar os artistas interioranos através de um atendimento digno nos Centros de Cultura locais, nos Projetos da FUNCEB, evitando comparações arbitrárias, desiguais e preconceituosas;

  • Inclusão dos artistas do interior em editais que visem o incentivo à produção artística do interior;

  • Qualificação do artista do interior através de Projetos de Profissionalização Artística e Cultural em várias áreas, que tenham continuidade através de resultados práticos e assistidos pelos profissionais ministrantes;

  • Qualificação dos profissionais dos órgãos de cultura das cidades do interior;

  • Criação de Festivais Intermunicipais de Artes Cênicas no interior baiano;

  • Criação de políticas públicas que reconheçam e valorizem os grupos e artistas amadores e as suas realizações, incluindo-os em editais que visem o incentiva à produção artística no interior.

                Assim, encaminhamos as propostas deste documento aprovadas, pelos representantes da cada grupo presente, para apreciação e tomada de providência, aos órgãos competentes e interessados.


Salvador, 07 de dezembro de 2004
 

Grupo Caçuá de Teatro - Vitória da Conquista
Teatro Popular de Ilhéus
Grupo de Teatro Nata - Alagoinhas
Grupo de Teatro e Dança BAC - Alagoinhas
Grupo de Teatro Macabéicos - Alagoinhas
Bando de Teatro Municipal de Santo Antônio de Jesus
Cia Teatral Mont´Arte – São Francisco do Conde





                        

                CARBONO em Conquista- Tudo se copia, nada se cria!
              Reflexões Stanislavskianas à geração Big Brother, da “proposta”, e da preguiça.
          Oxigênio, por favor, SATED à vista!          
      Junho/2004

Estive recentemente em Conquista aproveitando o recesso junino da UFBA para ver as trezenas e festa de Santo Antônio, meu santo de devoção, que acontecem no distrito de José Gonçalves, mais conhecido como Guigó. Antes, porém, resolvi dar o ar da graça no Projeto Carbono, promovido pela Família Pafatac no Teatro Carlos Jehovah.
Á princípio, iria como mero expectador, mas como tinha uma cena pronta de “Esperando Godot” de Samuel Becket, resolvi encená-la.
Este projeto, descendente do antigo Assim se Improvisa promovido pelo dançarino e coreógrafo Chefinho Santos e pelo ator e diretor Roberto de Abreu, tem a pretensão de ser um espaço para que os novos, e os velhos artistas conquistenses mostrem seus trabalhos, performances, improvisações, discutam e respirem arte com a classe artística local e o público em geral. Mas será que isto está acontecendo ?!

De início, uma confusão geral fez do Projeto ou da inexperiência dos organizadores, uma afronta ao teatro e ao bom senso. A começar pelas inúmeras gafes cometidas pelo apresentador da noite, que vestido de uma pseudo drag caricata, de barba e cabelos de Morfeu, se insinuava com danças e poses eróticas para a platéia masculina, que atrasada, chegava a toda hora no recinto, saía, chegava, saía, conversava...
A histeria e o despropósito se instalaram por toda noite, a não ser, quando eram substituídos pelo medo e incômodo do público por ser escolhido para uma improvisação no centro do palco. As pessoas assustadas começavam a sair do teatro e as que, coitadas, eram pegas de surpresa, forçadas a ir ao palco e se arriscarem diante de um exercício teatral tão simples e comum a atores, acostumados a fazê-lo.
“A arte e os artistas devem evoluir, pois, caso contrário, só lhes restará regredir”.
E o Festival de talentos, não pára. Num dado momento da noite, o apresentador fez mais uma alusão ao teatro com a pejorativa preconceituosa contida no termo “viado” comparando com ofício do ator, de forma gratuita, descontextualizada e ridícula.
Será que nós, artistas conscientes, vamos continuar alimentando preconceitos na nossa cidade tão “cultural” e homofóbica?!
Há outro elemento que contribui para promover um estado dramático que estimula a criação. Vamos chamá-lo de ética. O ator precisa de ordem, disciplina, e um código de ética, não apenas para as circunstâncias gerais de seu trabalho, mas também, e especialmente, para atingir seus objetivos artísticos. (...) Um ator está sempre sob os olhos do público, exibindo seus melhores atributos, recebendo ovações, aceitando elogios extravagantes, lendo críticas pródigas em louvores - e tudo isto provoca, no ator, uma ânsia incontrolável de ter sua vaidade pessoal constantemente estimulada. Mas se ele restringir-se a esse tipo de incentivo estará sujeito a decair e a tornar-se banal. Uma pessoa séria não se deixaria entreter muito tempo por esse tipo de vida, mas uma pessoa medíocre deixa-se fascinar, corrompe-se e acaba sendo destruída por ele. Eis por que, em nosso mundo do teatro, devemos ser capazes de nos manter sempre sob controle. (...)
 Sua conduta deve ser norteada pelo seguinte princípio: Amem a arte em vocês, e não vocês na arte”
Como se não bastasse, a noite continua com sua programação que ia da exposição exacerbada e meramente efusiva, por parte de alguns, sobre a vida de cada grupo, seus projetos e trabalhos que desenvolvem, além do momento mais esperado da noite:
O anúncio de um novo grupo de teatro na cidade. OHHHHHHHHHHH!!!
Poderia este fato, ser motivo de grande alegria e crescimento para a arte e teatro conquistenses, mas infelizmente, não é.
Quando se tem a pretensão de se formar um Grupo de Teatro deve-se ter em mente alguns objetivos claros a respeito do trabalho a ser desenvolvido, metodologia e planejamentos a serem aplicados, estudos teóricos e práticos sobre a arte teatral, currículo e capacitação profissional dos ministrantes, entre outras coisas. Vale a pena ressaltar, que nesse caso, este grupo está sendo formado sem nenhum dos itens anteriores, dando vazão, entretanto, à falta absoluta de ética profissional e a ausência de maturidade artística, dos envolvidos, criando uma nova geração de “artistas” picaretas sem os caminhos árduos e degraus do trabalho, da técnica, dos estudos, e, sobretudo, da HUMILDADE no teatro e na vida. Nesse caso, não basta simplesmente o dom, o sonho ou o talento para garantir e continuar nessa carreira.
“Não é fácil definir ou analisar o talento. Em geral, ele está oculto nas profundezas, e é difícil evocá-lo. Talento é a feliz combinação de muitas faculdades criadoras numa pessoa, dirigida por sua vontade geradora. A técnica existe, sobretudo, para aqueles que possuem talento e inspiração. Sua função consciente é estimular a criatividade superconsciente. Quanto mais talentoso for o ator, mais ele se preocupará com sua técnica. Em nossa arte é muito perigoso amadurecer rápido demais, sem esforços decididos. (...) O talento pode não ser nada além de uma bela tagarelice.’
Nada contra ao surgimento de novos grupos e artistas, muito pelo contrário. Desde o Grupo de Teatro da UESB que tenho estimulado o surgimento de novos artistas teatrais na cidade, através de um trabalho sério, criterioso e com a aprovação, inclusive, do SATED, que prima por uma arte ética, respeitando o Teatro e os Profissionais que há muito tempo, “ralam,” estudam e lutam por uma arte digna e sem trapaças.
Por que essa ansiedade de geração burra e televisiva que quer colher frutos pecos, tornando-se do nada, a Celebridade Big Brother do Ano, sendo que, sequer alguma semente foi plantada?!
Pelo amor de Dionísio! Acho que estão brincando comigo, aliás, conosco.
O SATED está precisando retornar a Conquista URGENTE para evitar anomalias como estas que são frutos da tão organizada e unida classe artística teatral conquistense. Mas será que o nosso mais novo “artista teatral” sabe o que significa a sigla SATED e o que ela implica?!
Parece coisinha de interior mesmo! É tanto que os modelos fotográficos, ex-jornalistas, desconhecidos, filhos dos donos da Loja e afins estão tomando os espaços na mídia televisiva dos atores da cidade. Fazer o que, né?
Infelizmente, toda vez que retorno à Conquista vejo que ela parou no tempo. Os problemas são os mesmos, a arte e cultura continuam as mesmas, os artistas cada vez mais individuais, com as mesmas indagações e idéias revolucionárias dentro das suas propostas cada vez mais desconhecidas ou plagiadas, salvo algumas exceções.
Tenho saudade mesmo é do tempo áureo do teatro conquistense, de Carlos Jehovah, Sônia e Gildázio Leite, das performances inusitadas de Adão e Marcelo, da força de Rose Bispo, das Dionísias Urbanas, este sim, um projeto sério, de estudos e construção de personagens e cenas, promovido pelo Grupo de Teatro da UESB, hoje Caçuá, que inclusive, passaram Tiago, Murilo, Roberto, Adriano, Rafael, e muitos outros que se acharam ou se perderam nos caminhos que levam a esta arte.
Todos que passaram por mim, que comeram e beberam no mesmo prato e taça Dionisíacas, deleitando e chupando nas tetas desse sátiro teatral, fazem parte de uma mesma história, de um ideal artístico iniciado com muita verdade. Por isso, tenho toda a liberdade de falar-lhes quando estão se esquivando deste ideal, a não ser, que prefiram continuar errados, trilhando por caminhos obscuros. Aliás, errar faz parte da aprendizagem, em qualquer setor da vida , e não tira a dignidade de ninguém, porém, o orgulho de se achar perfeito cria uma falsa ilusão de superioridade que não leva ninguém a nada.
Nossa arte só crescerá quando acabarmos de vez com os egos inflamados, a supremacia imatura, as tiranias e máfias peçonhentas entre nós, ou então, assumamos de vez o ringue da individualidade nas ações, sem, portanto, ferir a ética que conduzirá as ações dos mais sensatos.
“Os amadores rejeitam a técnica, numa atitude que não reflete suas convicções conscientes, mas sim, e tão somente uma preguiça desenfreada.(..) De fato, muitos há entre os atores profissionais que jamais modificaram sua atitude amadorística para com a arte de representar.”
Para encerrar esse papo antigo, uma nota: usei nesse texto algumas citações do Mestre Stanislavski, contidas nos seus livros e selecionadas numa edição intitulada, Manual do Ator, traduzido por Álvaro Cabral e Jefferson Luiz Camargo, da editora Martins Fontes. Quem se interessar por uma leitura enriquecedora e quiser conferir mais dos seus ensinamentos do Mestre, é só adquirir, um exemplar, pois já o temos na cidade.
Seria tão bom se os atores começassem a estudar sem precisar fazê-lo só quando estão numa Universidade. Ou já pensaram na Classe Teatral Conquistense toda unida num Projeto de Estudos em Teorias Teatrais ?!  (...)  Pausa Dramática
Enquanto esse dia não chega, continuo acreditando numa arte transformadora, sem as tarjas de um sucesso plastificado e mentiroso das falsas celebridades que se fazem sem o suor e o sangue do trabalho duro e honesto.
A minha arte é o meu trabalho, meu sustento e minha religião, senhores, e isto para mim, é mais que sagrado, por isso, sempre lutarei para que ela seja digna, real, e verdadeira .
E com o Mestre Stanislavski e a saudação ao nosso deus, encerro mais este texto.
Evoéh, Dionísio! Justiça e dignidade a nossa arte!
“Temam os seus admiradores! Aprendam, no devido tempo, a entender e amar a verdade cruel a respeito de si próprios. (...) Falem a respeito de sua arte somente com aqueles que podem lhes dizer a verdade. A maioria dos atores tem medo da verdade, não por serem incapazes se suportá-la mas, porque ela pode destruir,no ator, a fé que ele tem em si próprio.”

Marcelo Benigno é ator, arte educador, graduando em Artes Cênicas pela Ufba, diretor do Grupo Caçuá de Teatro, em Vitória da Conquista, aprendiz de artista e seguidor de Dionísio há 20 anos.