quinta-feira, 3 de março de 2011

ANO 2004

                                                                      
                                            6 x 8 = 48
Quanto vale o artista do interior?
A Fundação Cultural do Estado da Bahia responde!
 
 
Está se aproximando o final do ano.
É hora de fazer aquele balanço do que foi proveitoso, improdutivo, equívocos e acertos nessa louca roda viva, da vida.
Como artistas, nós do interior sofremos mais uma vez com as ausências de incentivos e políticas públicas voltadas para nós, isso tanto no âmbito municipal, estadual e federal.
Na minha cidade, por exemplo, Vitória da Conquista, os interioranos só têm vez para tapar os buracos nos grandes eventos que acontecem na cidade. As melhores atrações do país participam das Festas Conquistenses mais importantes, entretanto, o artista da terra, é esquecido, aceitando na maioria das vezes, a justificativa mais óbvia.
Em oito anos de administração petista em Conquista, o Governo pouco vez para a arte conquistense, principalmente para o seu teatro.
Agora há uma retomada, uma vontade de fazer que, entretanto, não apagará o passado.
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, outra instituição importante na cidade,
não possui mais seus 10 grupos de arte, pertencentes ao Projeto Grupos de Arte da Uesb que levavam o teatro, a dança, o canto coral e a capoeira as comunidades acadêmicas e locais das cidades de  Jequié, Conquista e Itapetinga.
Os apoios culturais são restritos às limitações orçamentárias da instituição, que hoje, tem a renda compatível com a da cidade. Além disso, a universidade hoje administra o Centro de Cultura de Conquista, ligado a Fundação Cultural do Estado da Bahia, sem saber sequer o que é um DRT ou que tipo de artista e projetos sociais usam suas dependências físicas, muitas vezes alugadas e destinadas a todos os tipos de eventos, menos os culturais.
A UESB tem estado presente, da forma que pode, nos apoios culturais a seus artistas. Mas precisamos de uma política cultural mais definida, não meramente, de patrocínios isolados visto que é uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, e a arte e cultura são fundamentais, não só no papel, para o seu desenvolvimento como Universidade Respeitada que é.
No nosso Estado, a Fundação Cultural do Estado da Bahia, que poderia muito bem ser a Fundação Cultural da Cidade de Salvador vem mostrando que não se preocupa com o artista e a arte no interior.
Há quase uma década esta Fundação não abre edital de auxílio à montagem para dança e teatro no interior baiano. Nesse ano, ela resolve agraciar os interioranos com tal dádiva, só que a disparidade nos valores e as comparações entre interior e capital são nítidas nos índices do edital, e o mais grave, revela como a própria Fundação Cultural vê e valoriza seus artistas e arte interioranos.
Nota-se que para o Edital destinado ao Interior baiano foi concedido um valor de 6 mil reais, para os custos totais com a produção de um único espetáculo, e para a capital, o valor foi de 48 mil reais, também para um único espetáculo. E ainda falam que no interior eles abriram mão dos DRTs e da Firma de Produção porque os interioranos não tem ou entendem destas coisas!
É mole ou quer mais?
Quanto vale o artista interiorano?
A Fundação Cultural responde: Oito vezes menos que o nosso artista da capital!
O que que é isso, minha gente?
Estão achando que nós somos o quê?
A Fundação acha que nós somos idiotas ou quer manipular também a nossa arte?
Que argumento o Professor Bião, a artista Irma Vidal e o Sr. Paulo Gaudenzzi terão para tal disparate?
Queremos uma resposta!
Que vergonha, meu Deus!
Que vergonha!
Que pais é esse?
Na verdade, isso tudo reflete a grande e constante preocupação da Fundação Cultural e da sua pseudo-hegemonia sobre o interior.
O interior só é visto como depósito dos artistas da capital, que com os seus produtos mais variados, muitas vezes de qualidade duvidosa, invadem as caatingas sertanejas com seus espetáculos de divas famosas, que sequer, sabem que cada interior possui uma tradição artística e cultural. Cada vez que um grupo de artistas famosos vai para a interior, o festival de sandices e glamour aumenta. Salvo aqueles que são verdadeiros artistas e não se colocam num pedestal de superioridade imbecil. E ainda acham que com isso, está se formando platéia no interior! Pois os coitadinhos do interior, não tem sequer, opções de cultura, e as nossas peças passam na televisão, ou melhor, na Rede Globo, afirmam as divas mais convictas!
Vê se no Projeto Circulação Cultural se não houver a participação de um produtor local, que na maioria das vezes, são os artistas locais, o que acontece?
Pergunte aos artistas que participaram do Circulação Cultural e poderão ver que não estou mentindo.
“O que falta nesta cidade? É verdade!”
E essa queixa não é só minha. No Encontro em Preparação ao Seminário Nacional sobre Cultura Popular, realizado em Salvador, pelo Ministério da Cultura, no dia 26 de outubro desse ano, todos os artistas populares e interioranos reclamaram e exigiriam que problemas e preconceitos como estes acabassem.
Já estamos cansados de nas nossas próprias cidades sermos trocados pelos artistas de fora, que são sempre os melhores do mundo!
Já estamos cansados das apropriações erradas da nossa cultura popular!
Já estamos cansados de tanta sujeira, mentira e enganação!
E eu como artista catingueiro, formador de opinião, trabalhador ético e digno, tenho que engolir tudo isso calado e deixar que façam da minha cultura e arte, que para mim, são as coisas mais importantes na vida, um lugar de comércio prostituto, mercenário e totalmente exclusivista?!
Cadê o SATED nessa história?Aliás, temos um sindicato atuante?! Qual sua função, além de tirar o DRT?
O MOVAI- Movimento de Valorização do Artista Interiorano tem por objetivo questionar e criar um espaço de discussão e valorização dos artistas interioranos nas suas cidades, através de projetos culturais, intervenções urbanas, pesquisas de opinião pública sobre a relevância  e importância da cultura, arte e artistas interioranos para as suas cidades.
Redefinir o papel da cultura e arte em cada cidade, exigir prioridades, para quem realmente trabalha dia-a-dia para a mudança deste quadro de pesos e medidas, comparações e favoritismos que ninguém entende.

Senhores, cresçam e apareçam! Venham ao interior e vejam quem realmente movimenta a cultura local.
Se dependêssemos dos apoios do poder público, municipal, estadual e federal, já estaríamos mortos e enterrados, como o palhaço conquistense Charles Cerdeira, que morreu a míngua, por falta de trabalho e atenção à cultura teatral na nossa cidade! Hoje seu nome estampa uma arena numa escola municipal. Belo prêmio, não?!
Não queremos nada além de continuar exercendo o nosso ofício e trabalhando com a dignidade que merecemos. É pedir muito? Ou isso não é apenas cidadania, como se diz nos projetos políticos e culturais da capital e interior?
Gostaria de não ter razão no que falo, mas felizmente dignidade não se compra com 6 mil reais ou com sorrisos e aprovações em Projetos por simpatia, ou exclusivismos costumeiros.
Vale a pena lembrar que a opinião é pública e se estamos falando é porque nunca nos deram voz, nunca nos ouviram, nunca nos levam a sério, só nos enrolam com as burocracias conhecidas das más vontades soteropolitanas.
Ficar envolvendo arte com política e / ou interesses particulares é tão velho, sujo e oportuno, principalmente por parte de quem vem.
Cultura e arte se fazem com diálogo aberto com que faz, não com imposições, deduções e promessas que nunca chegam.
Nesta ceia natalina, junto com o ano vindouro, nós, artistas interioranos só queremos duas coisas:
Dignidade e Respeito!
Faça-se, Divulga-se, Cumpra-se!


Marcelo Benigno é ator, arte-educador, produtor cultural, diretor do Grupo Caçuá de Teatro em Vitória da Conquista, aluno da Escola de Teatro da Ufba, sertanejo verdadeiro que sempre lutará pela ética e clareza com a nossa arte teatral, no interior baiano.






 DOCUMENTO MOVAI – Movimento de Valorização do Artista do Interior


           Em reunião no Teatro Vila Velha no dia cinco de dezembro de 2004, os Grupos Teatrais do Interior que participaram da mostra do Projeto Teatro de Cabo a Rabo III, aderiram ao MOVAI - Movimento de Valorização do Artista do Interior, que tem por objetivo criar um espaço de discussão e valorização dos artistas interioranos nas suas cidades, através de políticas culturais públicas, intervenções artísticas, pesquisas de opinião sobre a relevância e importância da cultura, da arte e dos artistas interioranos para as suas cidades. Redefinir o papel da cultura e arte em cada município. Exigir prioridade para quem realmente produz na sua região, através de políticas culturais claras e projetos consistentes de qualificação profissional nas áreas artísticas, editais e prêmios de incentivo à produção destinados a todos de maneira ética, justa e digna.
         Decidiu-se fazer uma carta documento contendo algumas propostas de ações a serem realizadas pelos responsáveis pelas políticas culturais nas três esferas do poder: municipal, estadual e federal:

  •  Criação de Centros Culturais equipados ou revitalização dos já existentes, em cada cidade, para a utilização dos artistas locais;

  •   Criação de um Censo Cultural que registre os artistas que estão trabalhando efetivamente em cada região;

  •  Criação de leis municipais de incentivo à cultura nos municípios onde ainda não existem e efetiva aplicação da lei onde já existe;

  •  Fortalecimento dos órgãos de cultura municipais, com autonomia financeira, para o desenvolvimento de políticas públicas claras de apoio à produção local;

  •  Criação de Fundos Municipais de Investimento para a produção e manutenção dos grupos artísticos locais;

  •  Inclusão dos artistas locais no calendário anual de festas e eventos culturais de suas respectivas cidades;

  • Criação de sistemas de divulgação dos grupos e artistas interioranos através de:

-  Calendários de atividades artísticas em cada município;
- Criação de portais eletrônicos ou sites de divulgação dos artistas e produção cultural de cada cidade;
- Efetivação das Assessorias de Comunicação existentes nas próprias Prefeituras locais para Assessorias Artísticas e Culturais de cada cidade;

  •  Regionalização e ampliação dos recursos e Projetos mantidos pela FUNCEB como: Projeto Circulador Cultural, População Cultural, Salões de Artes Plásticas, Edital de Auxílio à Montagem para Teatro e Dança no interior baiano;


  •  Que a avaliação dos projetos em editais para a circulação de grupos pelo interior leve em conta a qualidade das propostas de intercâmbio com os artistas locais com o mesmo rigor e critério com que avalia a qualidade do espetáculo;

  • Que os projetos que levam artistas e grupos do interior para outras cidades, especialmente capitais, promovam e facilitem o contato e o intercâmbio com os artistas e grupos locais;

  • Intensificação da participação de grupos e produções do interior no Projeto Circulador Cultural;

  •  Circulação pelas cidades do interior baiano dos espetáculos e trabalhos dos grupos interioranos, através do Projeto Circulador Cultural da FUNCEB ou de outros Projetos a serem criados, contemplando os artistas interioranos;

  • Criação de uma rede de intercâmbio entre os artistas do interior com o próprio interior e com os artistas da capital;

  • Estruturação física e profissional dos Centros de Cultura mantidos pela Fundação Cultural nas cidades do interior baiano;

  • Criação nos Centros de Cultura, mantidos pela FUNCEB no interior do Estado, de espaços e Projetos de trabalho para os artistas locais, inclusive, menores taxas nas pautas de aluguel das salas e dos próprios teatros para a classe artística local;

  • Participação dos artistas locais na indicação dos Coordenadores dos Centros de Cultura nas suas Cidades, evitando indicações políticas e fora da área de atuação cultural e artística de cada município;

  • Priorizar no Calendário e Programação dos Centros de Cultura de cada cidade atividades culturais e artísticas, ao invés de eventos de outras naturezas, que acabam por descaracterizar o propósito dos Centros de Cultura em cada cidade;

  • Valorizar os artistas interioranos através de um atendimento digno nos Centros de Cultura locais, nos Projetos da FUNCEB, evitando comparações arbitrárias, desiguais e preconceituosas;

  • Inclusão dos artistas do interior em editais que visem o incentivo à produção artística do interior;

  • Qualificação do artista do interior através de Projetos de Profissionalização Artística e Cultural em várias áreas, que tenham continuidade através de resultados práticos e assistidos pelos profissionais ministrantes;

  • Qualificação dos profissionais dos órgãos de cultura das cidades do interior;

  • Criação de Festivais Intermunicipais de Artes Cênicas no interior baiano;

  • Criação de políticas públicas que reconheçam e valorizem os grupos e artistas amadores e as suas realizações, incluindo-os em editais que visem o incentiva à produção artística no interior.

                Assim, encaminhamos as propostas deste documento aprovadas, pelos representantes da cada grupo presente, para apreciação e tomada de providência, aos órgãos competentes e interessados.


Salvador, 07 de dezembro de 2004
 

Grupo Caçuá de Teatro - Vitória da Conquista
Teatro Popular de Ilhéus
Grupo de Teatro Nata - Alagoinhas
Grupo de Teatro e Dança BAC - Alagoinhas
Grupo de Teatro Macabéicos - Alagoinhas
Bando de Teatro Municipal de Santo Antônio de Jesus
Cia Teatral Mont´Arte – São Francisco do Conde





                        

                CARBONO em Conquista- Tudo se copia, nada se cria!
              Reflexões Stanislavskianas à geração Big Brother, da “proposta”, e da preguiça.
          Oxigênio, por favor, SATED à vista!          
      Junho/2004

Estive recentemente em Conquista aproveitando o recesso junino da UFBA para ver as trezenas e festa de Santo Antônio, meu santo de devoção, que acontecem no distrito de José Gonçalves, mais conhecido como Guigó. Antes, porém, resolvi dar o ar da graça no Projeto Carbono, promovido pela Família Pafatac no Teatro Carlos Jehovah.
Á princípio, iria como mero expectador, mas como tinha uma cena pronta de “Esperando Godot” de Samuel Becket, resolvi encená-la.
Este projeto, descendente do antigo Assim se Improvisa promovido pelo dançarino e coreógrafo Chefinho Santos e pelo ator e diretor Roberto de Abreu, tem a pretensão de ser um espaço para que os novos, e os velhos artistas conquistenses mostrem seus trabalhos, performances, improvisações, discutam e respirem arte com a classe artística local e o público em geral. Mas será que isto está acontecendo ?!

De início, uma confusão geral fez do Projeto ou da inexperiência dos organizadores, uma afronta ao teatro e ao bom senso. A começar pelas inúmeras gafes cometidas pelo apresentador da noite, que vestido de uma pseudo drag caricata, de barba e cabelos de Morfeu, se insinuava com danças e poses eróticas para a platéia masculina, que atrasada, chegava a toda hora no recinto, saía, chegava, saía, conversava...
A histeria e o despropósito se instalaram por toda noite, a não ser, quando eram substituídos pelo medo e incômodo do público por ser escolhido para uma improvisação no centro do palco. As pessoas assustadas começavam a sair do teatro e as que, coitadas, eram pegas de surpresa, forçadas a ir ao palco e se arriscarem diante de um exercício teatral tão simples e comum a atores, acostumados a fazê-lo.
“A arte e os artistas devem evoluir, pois, caso contrário, só lhes restará regredir”.
E o Festival de talentos, não pára. Num dado momento da noite, o apresentador fez mais uma alusão ao teatro com a pejorativa preconceituosa contida no termo “viado” comparando com ofício do ator, de forma gratuita, descontextualizada e ridícula.
Será que nós, artistas conscientes, vamos continuar alimentando preconceitos na nossa cidade tão “cultural” e homofóbica?!
Há outro elemento que contribui para promover um estado dramático que estimula a criação. Vamos chamá-lo de ética. O ator precisa de ordem, disciplina, e um código de ética, não apenas para as circunstâncias gerais de seu trabalho, mas também, e especialmente, para atingir seus objetivos artísticos. (...) Um ator está sempre sob os olhos do público, exibindo seus melhores atributos, recebendo ovações, aceitando elogios extravagantes, lendo críticas pródigas em louvores - e tudo isto provoca, no ator, uma ânsia incontrolável de ter sua vaidade pessoal constantemente estimulada. Mas se ele restringir-se a esse tipo de incentivo estará sujeito a decair e a tornar-se banal. Uma pessoa séria não se deixaria entreter muito tempo por esse tipo de vida, mas uma pessoa medíocre deixa-se fascinar, corrompe-se e acaba sendo destruída por ele. Eis por que, em nosso mundo do teatro, devemos ser capazes de nos manter sempre sob controle. (...)
 Sua conduta deve ser norteada pelo seguinte princípio: Amem a arte em vocês, e não vocês na arte”
Como se não bastasse, a noite continua com sua programação que ia da exposição exacerbada e meramente efusiva, por parte de alguns, sobre a vida de cada grupo, seus projetos e trabalhos que desenvolvem, além do momento mais esperado da noite:
O anúncio de um novo grupo de teatro na cidade. OHHHHHHHHHHH!!!
Poderia este fato, ser motivo de grande alegria e crescimento para a arte e teatro conquistenses, mas infelizmente, não é.
Quando se tem a pretensão de se formar um Grupo de Teatro deve-se ter em mente alguns objetivos claros a respeito do trabalho a ser desenvolvido, metodologia e planejamentos a serem aplicados, estudos teóricos e práticos sobre a arte teatral, currículo e capacitação profissional dos ministrantes, entre outras coisas. Vale a pena ressaltar, que nesse caso, este grupo está sendo formado sem nenhum dos itens anteriores, dando vazão, entretanto, à falta absoluta de ética profissional e a ausência de maturidade artística, dos envolvidos, criando uma nova geração de “artistas” picaretas sem os caminhos árduos e degraus do trabalho, da técnica, dos estudos, e, sobretudo, da HUMILDADE no teatro e na vida. Nesse caso, não basta simplesmente o dom, o sonho ou o talento para garantir e continuar nessa carreira.
“Não é fácil definir ou analisar o talento. Em geral, ele está oculto nas profundezas, e é difícil evocá-lo. Talento é a feliz combinação de muitas faculdades criadoras numa pessoa, dirigida por sua vontade geradora. A técnica existe, sobretudo, para aqueles que possuem talento e inspiração. Sua função consciente é estimular a criatividade superconsciente. Quanto mais talentoso for o ator, mais ele se preocupará com sua técnica. Em nossa arte é muito perigoso amadurecer rápido demais, sem esforços decididos. (...) O talento pode não ser nada além de uma bela tagarelice.’
Nada contra ao surgimento de novos grupos e artistas, muito pelo contrário. Desde o Grupo de Teatro da UESB que tenho estimulado o surgimento de novos artistas teatrais na cidade, através de um trabalho sério, criterioso e com a aprovação, inclusive, do SATED, que prima por uma arte ética, respeitando o Teatro e os Profissionais que há muito tempo, “ralam,” estudam e lutam por uma arte digna e sem trapaças.
Por que essa ansiedade de geração burra e televisiva que quer colher frutos pecos, tornando-se do nada, a Celebridade Big Brother do Ano, sendo que, sequer alguma semente foi plantada?!
Pelo amor de Dionísio! Acho que estão brincando comigo, aliás, conosco.
O SATED está precisando retornar a Conquista URGENTE para evitar anomalias como estas que são frutos da tão organizada e unida classe artística teatral conquistense. Mas será que o nosso mais novo “artista teatral” sabe o que significa a sigla SATED e o que ela implica?!
Parece coisinha de interior mesmo! É tanto que os modelos fotográficos, ex-jornalistas, desconhecidos, filhos dos donos da Loja e afins estão tomando os espaços na mídia televisiva dos atores da cidade. Fazer o que, né?
Infelizmente, toda vez que retorno à Conquista vejo que ela parou no tempo. Os problemas são os mesmos, a arte e cultura continuam as mesmas, os artistas cada vez mais individuais, com as mesmas indagações e idéias revolucionárias dentro das suas propostas cada vez mais desconhecidas ou plagiadas, salvo algumas exceções.
Tenho saudade mesmo é do tempo áureo do teatro conquistense, de Carlos Jehovah, Sônia e Gildázio Leite, das performances inusitadas de Adão e Marcelo, da força de Rose Bispo, das Dionísias Urbanas, este sim, um projeto sério, de estudos e construção de personagens e cenas, promovido pelo Grupo de Teatro da UESB, hoje Caçuá, que inclusive, passaram Tiago, Murilo, Roberto, Adriano, Rafael, e muitos outros que se acharam ou se perderam nos caminhos que levam a esta arte.
Todos que passaram por mim, que comeram e beberam no mesmo prato e taça Dionisíacas, deleitando e chupando nas tetas desse sátiro teatral, fazem parte de uma mesma história, de um ideal artístico iniciado com muita verdade. Por isso, tenho toda a liberdade de falar-lhes quando estão se esquivando deste ideal, a não ser, que prefiram continuar errados, trilhando por caminhos obscuros. Aliás, errar faz parte da aprendizagem, em qualquer setor da vida , e não tira a dignidade de ninguém, porém, o orgulho de se achar perfeito cria uma falsa ilusão de superioridade que não leva ninguém a nada.
Nossa arte só crescerá quando acabarmos de vez com os egos inflamados, a supremacia imatura, as tiranias e máfias peçonhentas entre nós, ou então, assumamos de vez o ringue da individualidade nas ações, sem, portanto, ferir a ética que conduzirá as ações dos mais sensatos.
“Os amadores rejeitam a técnica, numa atitude que não reflete suas convicções conscientes, mas sim, e tão somente uma preguiça desenfreada.(..) De fato, muitos há entre os atores profissionais que jamais modificaram sua atitude amadorística para com a arte de representar.”
Para encerrar esse papo antigo, uma nota: usei nesse texto algumas citações do Mestre Stanislavski, contidas nos seus livros e selecionadas numa edição intitulada, Manual do Ator, traduzido por Álvaro Cabral e Jefferson Luiz Camargo, da editora Martins Fontes. Quem se interessar por uma leitura enriquecedora e quiser conferir mais dos seus ensinamentos do Mestre, é só adquirir, um exemplar, pois já o temos na cidade.
Seria tão bom se os atores começassem a estudar sem precisar fazê-lo só quando estão numa Universidade. Ou já pensaram na Classe Teatral Conquistense toda unida num Projeto de Estudos em Teorias Teatrais ?!  (...)  Pausa Dramática
Enquanto esse dia não chega, continuo acreditando numa arte transformadora, sem as tarjas de um sucesso plastificado e mentiroso das falsas celebridades que se fazem sem o suor e o sangue do trabalho duro e honesto.
A minha arte é o meu trabalho, meu sustento e minha religião, senhores, e isto para mim, é mais que sagrado, por isso, sempre lutarei para que ela seja digna, real, e verdadeira .
E com o Mestre Stanislavski e a saudação ao nosso deus, encerro mais este texto.
Evoéh, Dionísio! Justiça e dignidade a nossa arte!
“Temam os seus admiradores! Aprendam, no devido tempo, a entender e amar a verdade cruel a respeito de si próprios. (...) Falem a respeito de sua arte somente com aqueles que podem lhes dizer a verdade. A maioria dos atores tem medo da verdade, não por serem incapazes se suportá-la mas, porque ela pode destruir,no ator, a fé que ele tem em si próprio.”

Marcelo Benigno é ator, arte educador, graduando em Artes Cênicas pela Ufba, diretor do Grupo Caçuá de Teatro, em Vitória da Conquista, aprendiz de artista e seguidor de Dionísio há 20 anos. 

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